quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TERCEIRIZAÇÃO

Em audiência pública no TST, bancários defendem emprego
Durante debate sobre terceirização em diferentes áreas, Sindicato expõe mazelas causadas pela prática no setor financeiro


Brasília - A terceirização no setor financeiro foi discutida em um bloco específico em audiência publica no Tribunal Superior do Trabalho. Os debates acontecem durante essa terça e quarta-feira, em Brasília.

A diretora executiva do Sindicato Ana Tércia Sanches refutou os dois principais mitos da terceirização bancária: a de que ela gera emprego e visa à especialização. “Os trabalhadores terceirizados cumprem jornadas extenuantes de trabalho, muito superiores à dos bancários. São 44 horas semanais contra as 30 horas dos bancários.” A consequência, acrescentou Ana Tércia, é a redução do número de postos de trabalho.

A falácia da terceirização como meio de especialização dos serviços foi denunciada pela dirigente com fatos: “São os bancos que detém o know-how dos serviços prestados pelas terceirizadas. São eles que ensinam o serviço às contratadas, fornecem manuais e scripts de atendimento. Além disso, a contratada trabalha no próprio sistema do banco, que monitora todas as atividades, estabelece metas e tem, inclusive, um preposto do banco na prestadora de serviço.”

Ana Tércia também ressaltou a total subordinação das empresas terceirizadas em relação aos tomadores de serviço. “Os bancos têm inclusive ingerência na admissão e demissão de pessoal das contratadas.”

A dirigente destacou também o papel da terceirização na pulverização dos trabalhadores e no ataque à organização sindical. “Faço parte de um Sindicato com 88 anos de conquistas. Temos uma Convenção Coletiva de Trabalho que vale em todo o território nacional. Um bancário do Piauí ganha o mesmo que um de São Paulo. Isso sim gera emprego com condições dignas.” Ao mesmo tempo, disse, um trabalhador terceirizado de determinada empresa é filiado a um sindicato em um estado e a uma entidade diferente em outro. “Como vão poder se organizar?”, questionou. Esse processo não prejudica apenas os trabalhadores, mas também clientes e toda a sociedade, afirmou. “A alta rotatividade nas terceirizadas prejudica a qualidade dos serviços.”

Nesse modelo, acrescentou a diretora do Sindicato, os ganhos ficam para os bancos e os prejuízos para a sociedade. “Os clientes perdem em qualidade e em segurança e os trabalhadores adoecem, o que leva a gastos com dinheiro público.” Pensar a terceirização portanto, concluiu Ana Tércia, é pensar em qual país se quer construir.

O dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) Miguel Pereira também participou do debate. Ele iniciou a fala saudando dezenas de trabalhadores terceirizados do ramo financeiro que vieram a Brasília prestigiar a audiência. “São pessoas que sofrem na pele as condições de trabalho precárias da terceirização”, disse.

> Sindicato apresenta "bancário genérico" ao TST

Miguel classificou a terceirização como um processo avassalador, que ceifa postos de trabalho. “Das 56 bilhões de operações bancárias realizadas em 2010 (dado apresentado anteriormente pela Febraban), somente cerca de 10% foram realizadas em agências bancárias e por bancários”. Boa parte dessas operações, lembrou Miguel, são feitas via internet, caixas eletrônicos ou correspondentes bancários. “O que não foi dito aqui é que por trás de cada operação on line ou em caixa eletrônico, tem um trabalhador. A atividade-fim do setor é composta por uma série de etapas que se não forem realizadas a operação não se efetiva”. E essas atividades, acrescentou, vêm sendo cada vez mais desenvolvidas por terceirizados com salários menores e condições precárias de emprego.

Ele citou dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) de 2009, segundo a qual 1.131.833 consultados disseram trabalhar no setor financeiro. No entanto, a Rais 2009 (Relações Anuais de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego) há 741.263 trabalhadores formalmente vinculados ao setor. O que deixa 390.570 trabalhadores pulverizados em outros setores e desprovidos de direitos conquistados pela categoria bancária.

Menos empregos – O representante da Contraf enfatizou que um dos setores da economia brasileira que mais lucra é também o que menos contribui com geração de empregos. As instituições financeiras foram responsáveis por apenas 0.95% dos empregos gerados no país em 2010. “Além disso, os novos contratados do setor ganham em média 40% menos que os que foram desligados.”

Correspondentes – Miguel também refutou os argumentos da Febraban e da Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif) - representada por Magnus Apostólico – de que o crescimento dos correspondentes leva à inclusão bancária da população. “O Banco Central, ao arrepio de todos os marcos, inclusive da CLT, autorizou que os bancos abram correspondentes dentro de suas próprias holdings. Queremos sim a inclusão bancária, mas as agencias se tornaram pontos de venda de serviços, e os mais humildes não têm acesso, sendo empurrados para o atendimento em correspondentes, a grande maioria situada a poucos metros das agências.”

O dirigente concluiu lembrando que as instituições financeiras não funcionam em regime de concessão. “Os bancos não trabalham com recursos próprios, mas com recursos da sociedade. E eles podem e devem gerar novos e melhores postos de trabalho.”

fonte: http://www.spbancarios.com.br/noticia.asp?c=18364

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