Uma das regras de ouro adotadas por Jesús Zabalza, presidente no Brasil do
Banco Santander desde junho, é reveladora das suas intenções. Quase que por
decreto, ele estabeleceu que nenhum novo negócio será tocado se não tiver um
retorno de 20%.
O número "mágico" vale para tudo, de aquisições que o
banco pretende fazer à abertura de agências. Até para o teatro que vai
inaugurar neste ano, ao lado de sua sede. O esforço é para elevar a
rentabilidade do banco. O Santander Brasil registrou um retorno sobre o
patrimônio líquido de 11,2% no primeiro trimestre, muito abaixo da faixa de 20%
exibida por seus dois principais concorrentes privados, Itaú Unibanco e
Bradesco. A meta final é abrir espaço para sustentar o crescimento orgânico e
por meio de aquisições. O presidente do Santander Brasil, o espanhol nascido em
Baracaldo, no País Basco, Jesús Zabalza, tem uma missão que se provou
impossível para seus antecessores: fazer o banco crescer.
De posse da maior
folga de capital entre os grandes bancos em operação no país, o Santander tem
patinado. Nos últimos anos, perdeu fatias de mercado e clientes, reconhece.
Zabalza elegeu três áreas prioritárias para direcionar o capital do banco. São
elas: agronegócio, crédito consignado e adquirência. "Nós vamos crescer,
mas vamos crescer de um jeito rentável, além das capacidades que temos de
crescer de maneira orgânica dentro do banco." A chamada adquirência, de
nome difícil, é o negócio de credenciamento de estabelecimentos comerciais para
captura de transações com cartões de crédito e débito. De certa forma, contempla
também o relacionamento com as pequenas e médias empresas, que Zabalza
considera crucial para o banco.
Entre as várias mudanças de pessoal que
promoveu até agora, uma delas foi nomear o executivo Pedro Coutinho para cuidar
dos novos negócios, ou seja, identificar oportunidades nas três áreas citadas. "O encarreguei de desenvolver os
novos negócios, aqueles em que queremos crescer de maneira rápida e não-orgânica". Na área de
adquirência com cartões, o Santander está colocando na rua um projeto pioneiro
com a AmBev, em que todos os pagamentos dos clientes à fabricante de bebidas
poderá ser feito por transferência eletrônica usando as maquininhas de cartão.
Isso significará habilitar milhares de pequenos bares, restaurantes e mercados
por todo o Brasil. Zabalza diz que há projetos semelhantes com outras
companhias em andamento. A compra da GetNet, empresa que já fazia adquirência,
foi fundamental para o banco conseguir se estabelecer nessa área, em que Cielo
e Rede, que tinham o monopólio da operação até recentemente, contam com os maiores bancos locais como acionistas. "Agora
os números já começaram a ficar mais claros. Temos 10% dos clientes e 7% das
receitas nesse mercado." Zabalza diz ter uma "obsessão" com
pequenas e médias empresas. "Digo que um país moderno e estável tem de ter
um segmento de pequenas e médias muito crescente.
Cria emprego e a estabilidade
da economia. Eu gostaria de ter crescimento mais rápido em ´pymes´ (abreviação
usada no espanhol para pequenas e médias empresas), mas me dei conta que tinha
que regular umas coisas antes. Ao fim do ano, vamos ter um banco que vai
liderar em pymes. Vamos crescer a cada trimestre e o ano que vem será o ano das
pymes para o Santander. O agronegócio já esteve no DNA do banco, do finado
Banespa, mas se perdeu com os anos. A ideia é recuperá-lo. "Somos
banqueiros dos grandes produtores, como Minerva, Marfrig, JBS. E a ideia é
trabalhar toda a cadeia dos fornecedores e dos clientes.
Há um caminho
enorme." Segundo ele, apesar da proximidade desses grandes produtores, o
banco não tinha equipes e produtos para explorar as oportunidades existentes. No consignado, a herança do
Banespa mais uma vez é positiva, graças aos contratos com prefeituras. Fora de
São Paulo, o banco cuida das contas da prefeitura do Rio de Janeiro e outros
Estados e municípios. E quer explorar o consignado nas empresas privadas
clientes do banco.
O desafio, como sempre, está no modelo de negócios. No ano
passado a instituição rompeu com os chamados pastinhas, os agentes autônomos
que ganham alta comissão para gerar contratos de crédito. "Desenvolvemos
todo um projeto de consignado orgânico para a rede de agências. E seguimos
buscando novas oportunidades para compras e parcerias na área", afirma.
No
primeiro ano no cargo, diz que sua agenda foi voltada para assuntos internos
sem glamour e que agora a instituição estaria pronta para desempenhar. Um dos
problemas que diz ter procurado resolver foi o da insatisfação da clientela, que levou o banco a liderar alguns
rankings de reclamação. "Esse é um dos temas ao qual mais tempo dediquei. Revisei
todos os processos, os canais, como estamos atendendo no SAC, na ouvidoria, nas agências".
Ao
final, diz, pediu ajuda aos funcionários. Em outubro, abriu um canal para que
todos sugerissem medidas para melhorar o atendimento ao cliente. "Me
responderam 9 mil empregados. E daí surgiram umas cem ideias". Foram
coisas simples, como não exigir que o cliente tenha que ir à agência para criar
uma senha.
Fonte: Valor Econômico
Data da informação: 27/05/2014
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