Inflação disseminada põe o país em alerta | |
IPCA
atinge 0,92% em março, o maior índice para o mês desde 2003. Liderados
por alimentos e itens de transporte, sete de cada 10 produtos subiram.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a alta é passageira
» ANTONIO TEMÓTEO
O
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deu um salto de 0,92% em
março e superou as expectativas mais pessimistas dos analistas de
mercado, que apostavam em uma elevação de 0,89%. É o pior indicador para
o mês em 11 anos. Puxada pela forte elevação dos alimentos e do custo
dos transportes, a inflação acumulada em 12 meses passou de 5,68%, em
fevereiro, para 6,15%, encostando no limite de tolerância estabelecido
pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5% ao ano.
A
aceleração do custo de vida aumentou a preocupação de analistas,
investidores e governo com a saúde da economia, uma vez que, em apenas
três meses, o IPCA acumula uma alta de 2,18%, quase a metade do centro
da meta, de 4,5%. Divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), os dados transmitem outro sinal
inquietante: de cada 10 itens e serviços pesquisados, sete tiveram alta.
Ou seja, a carestia é generalizada. Além disso, dos nove grupos de
produtos monitorados, seis já ostentam, em 12 meses, aumento anual acima
do teto.
A situação só não foi pior
porque os preços controlados pelo governo subiram 3,4%, bem abaixo dos
7,14% dos produtos livremente comercializados. Em algum momento, porém,
itens como gasolina e energia elétrica, que estão artificialmente
represados, precisarão ser reajustados, o que pressionará ainda mais a
inflação.
Apesar do susto, a presidente
Dilma Rousseff determinou aos auxiliares que demonstrem calma. Ela está
convencida de que os preços dos alimentos, que responderam por 51% do
IPCA de março, vão ceder. O Planalto sustenta o discurso com base na
primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de abril,
que cravou alta de 0,72%, contra 1,16% de igual período do mês anterior.
Para o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a alta do IPCA é
temporária porque reflete, sobretudo, um choque de preço dos alimentos.
O
otimismo do governo, no entanto, não consegue convencer os analistas de
grandes instituições. O economista-chefe do Banco Mundial para América
Latina e Caribe, Augusto de la Torre, observa que o Brasil enfrenta uma
difícil combinação de inflação alta e baixo crescimento. Segundo ele, o
Ministério da Fazenda precisa adotar uma política fiscal mais austera
para que o Banco Central possa reduzir a taxa de juros. A falta de rigor
fiscal, avalia De la Torre, é o que explica por que os preços continuam
sob pressão, mesmo num cenário de baixa atividade econômica.
“Normalmente, isso não ocorre”, explicou.
A
gerente da pesquisa de inflação do IBGE, Eulina Nunes dos Santos,
avaliou que, além do grupo alimentos e bebidas, que subiu 1,92% em
março, o item transportes teve peso significativo no IPCA ao cravar alta
de 1,38%. Somados, os dois componentes representam 79% do índice. Ela
considerou também que a falta de chuvas comprometeu a produção de várias
lavouras.
Como a estiagem não deve
acabar nos próximos meses, o preço dos alimentos vai ceder lentamente.
“Além de prejudicar a quantidade e a qualidade dos alimentos, a seca
produziu efeitos indiretos. A alta do milho encareceu a ração animal, o
que teve impacto sobre carnes e leite. E o trigo afetou o preço de pães e
farinhas”, explicou Eulina.
Para o
economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank Flávio Serrano, o
resultado do IPCA de março torna difícil qualquer previsão sobre a
mudança do cenário. Para ele, a desaceleração será lenta, uma vez que a
estiagem ainda continuará, por um bom tempo, mantendo elevados os custos
de grãos e de insumos. Ele alertou que o índice de difusão, que mede a
quantidade de produtos e serviços com comportamento de alta, continua em
trajetória ascendente.
Na avaliação de
Serrano, a carestia generalizada torna mais difícil a tarefa do Banco
Central de fazer os preços convergirem para o centro da meta. “Esse
cenário aumenta as chances de a inflação terminar o ano bem próxima do
limite, de 6,5%. Ela está se estabilizando em torno dos 6%, deve
permanecer assim em 2015, e isso é ruim para confiança, aumenta a
volatilidade da economia e afugenta investidores”, completou.
Eleições
O
líder do Democratas na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), atribuiu a
alta da inflação aos erros do governo. “O descontrole da política
econômica chega com força à mesa do brasileiro, que paga pela
incompetência da dita ‘gerentona’, a presidente Dilma Rousseff”,
criticou.
Motivo de preocupação cada
vez maior para a população, a carestia deverá ser tema central nas
eleições de outubro. A dona de casa Maria Selma de Campos Santos, 53
anos, diz que levará o assunto em conta na hora de escolher o candidato a
presidente. Não bastasse o custo do tomate, que aumentou 32,85% em
março, e da batata-inglesa, que disparou 35,05%, ela reclama da baixa
qualidade dos produtos nas gôndolas. “Sei que a falta de chuvas
prejudica a produção, mas quando a qualidade é boa a gente faz um
sacrifício e compra. Nem isso está acontecendo. Tudo está caro e feio.
Isso precisa mudar.”
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quinta-feira, 10 de abril de 2014
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